segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Natal iluminado?


Por Arquimedes Guedes Rodrigues

Novembro, numa cidade comum, o clima natalino já se afirmava sobre as pessoas, sobre o comércio e sobre o imaginário coletivo. As providências não foram relegadas, as contratações, previamente realizadas, os estoques ajustados e, é claro, cada casa, apartamento, porta, repartição, loja e vitrine, tudo dentro da indumentária própria do período.

Um destaque comum a cada ano desta feita foi maior: a quebra do record de brilho, pisca-piscas, árvores de luz, coloridas ou brancas, brilhantes... em cada rua, em cada poste, em cada vitrine...

Naquela cidade, a proposta era promover o Natal de Luz - o brilho da vida.

A onipresença do Papai Noel é acompanhada e destacada pelas luzes, luzes que representam o divino, a esperança, o dia, a verdade... (?)

Nunca se promovera um incremento tão grande na iluminação do Natal quanto naquele ano, a cidade era só brilho .... um Natal brilhante!

Mas ocorreu que, na 'chegada' do Papai Noel, de helicóptero, um acidente provocou uma sucessão de fatos que culminou em um pane do sistema elétrico que cortou o fornecimento de energia da cidade .... tudo escuro... 24 de dezembro 18 h e tudo escuro.... "desculpe-nos senhor, nós vamos 'estar providenciando' (sic) rsrs....."

Ainda que durante todo o dezembro a luz brilhasse, ainda que durante todo o restinho do ano voltasse a brilhar.... a noite do dia 24 prenunciava uma escuridão sobre o 'Natal iluminado'...

Entretanto à esperança.... as horas avançavam ... as famílias em suas casas, as bonitas velas esvaindo-se ... a escuridão anunciando expandir-se!

É NATAL ....

Frustradas, as famílias saíam às varandas ... às calçadas ... e, ao lugar comum das verdadeiras grandes inconformações, às ruas .... "não é possível!"

Repercutiam entre si, o céu, claro, escuro contrastava mais as estrelas, e até aquelas que não percebemos brilhavam sobremaneira que compunham um raro espetáculo ... um descomunal brilho... esgotadas as esperanças, as conversas derivaram para as afinidades, a vizinhança, a última novidade, o último interesse coletivo ... o tempo, que diga-se de passagem, não incluía nenhuma nuvem no céu...

Claro que uma consciência coletiva já era realidade, a de que a falta de energia providenciara uma inédita oportunidade para aquela cidade viver um Natal iluminado (?) .... às claras, desnudo e espontâneo...

mas, antes desta verdade ser confessada, atitudes envergonhadas procuravam disfarçar suas expectativas e enganos sobre a verdadeira iluminação natalina... as pessoas, igualadas num vulto cinza, mal vistas, nunca antes haviam sido tão percebidas ... nunca haviam percebido tanto...

E durante toda a noite, escura e ofuscante noite, pode-se perceber a luz presente em cada um, a presença que possui uma vida, o elemento de brilho que destaca cada pessoa, e a insubstituível luz em que se torna todo aquele que decide SER.

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