quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Papai Noel existe

Nicolau, estava desempregado havia meses e mais uma vez saiu de casa a procura de uma vaga, ainda que temporária, já que próximo ao fim do ano, o comércio precisa de mais funcionários.

Como sempre, andou muito, mas naquele dia conseguira uma entrevista para representar o Papai Noel em um shopping. Não era de forma alguma o que desejava.... mas, quais seriam as alternativas ??? conseguiu a vaga ...

Pensava em como conseguiria humor, disposição, motivação para representar o ‘bom’ velhinho. Aqueles meses como desempregado não lhe proporcionara condições afins à sua missão, a não ser uma gélida abordagem, fria como um boneco de neve... o que não ajudava...

Amanheceu, era um sábado, e lá foi ele... vestiu a indumentária... posicionou-se no trono... ... .... “que vontade de fumar” ... ... ... “que roupa quente” ... ... ... "que poltrona grande"... "esquenta"...

Muitas pessoas nem percebiam sua presença ... as horas se passavam e o shopping começou a se encher de pessoas ao entardecer. Sua irritação já o levava a intentar jogar tudo ‘pra cima’ e “ir para bem longe dali”, pensava.

Entre uma foto e outra, sim ....pois causava simpatia em que pese sua frustração e irritação que o deixava inerte na grande poltrona grande e vermelha, desembarcou uma caravana vinda de um dos colégios da cidade... era a gota d’água, Henrique preparou-se para abandonar tudo...

‘Papai Noel’ levantou-se para recepcionar as crianças... Nicolau irritou-se mais ainda e correu para a porta ... Papai Noel correu para o abraço das dezenas de crianças que gritavam, corriam e abriam os braços para o bom velhinho... Nicolau encharcado de suor, cheirando a cigarro, exausto e mal humorado, ficou ainda mais decidido quando ouviu o rumor e os sentimentos dos presentes.... Papai Noel emocionara a todos ... Nicolau desistiu da porta e voltou correndo para o pátio ornamentado, as crianças atrás dele, ele circulava para fugir entre as árvores, renas e luzes ... Papai Noel brincava com as crianças...

Exausto, entregou-se, sentou no trono, e entendeu que Papai Noel toma vida na presença das crianças, tem vida própria, tem espírito, esta nas roupas .... ainda que o adulto mais ranzinza, por perto que esteja, intente contra sua existência.

domingo, 25 de novembro de 2007

Natal iluminado?

Novembro, numa cidade comum, o clima natalino já se afirmava sobre as pessoas, sobre o comércio e sobre o imaginário coletivo. As providências não foram relegadas, as contratações previamente realizadas, os estoques ajustados e, é claro, cada casa, apartamento, porta, repartição, loja e vitrine, tudo dentro da indumentária própria do período.

Um destaque comum a cada ano, desta feita foi maior: a quebra do record de brilho, pisca-piscas, árvores de luz, coloridas ou brancas, brilhantes... em cada rua, em cada poste, em cada vitrine...

Naquela cidade, a proposta era promover o Natal de Luz - o brilho da vida.

A onipresença do Papai Noel é acompanhada e destacada pelas luzes, luzes que representam o divino, a esperança, o dia, a verdade... (?)

Nunca se promovera um incremento tão grande na iluminação do Natal quanto naquele ano, a cidade era só brilho .... um Natal brilhante!

Mas ocorreu que, na 'chegada' do Papai Noel, de helicóptero, um acidente provocou uma sucessão de fatos que culminou em um pane do sistema elétrico que cortou o fornecimento de energia da cidade .... tudo escuro... 24 de dezembro 18 h e tudo escuro.... "desculpe-nos senhor, nós vamos estar providenciando....."

Ainda que durante todo o dezembro a luz brilhasse, ainda que durante todo o restinho do ano voltasse a brilhar.... a noite do dia 24 prenunciava uma escuridão sobre o 'Natal iluminado'...

Entretanto a esperança.... as horas avançavam ... as famílias em suas casas, as bonitas velas esvaindo-se ... a escuridão anunciando expandir-se!

É NATAL ....

Frustradas, as famílias saíam às varandas ... às calçadas ... e, ao lugar comum das grandes inconformações, às ruas .... "não é possível!"

Repercutiam entre si, o céu, claro, escuro contrastava mais as estrelas, e até aquelas que não percebemos brilhavam sobremaneira que compunham um raro espetáculo ... um descomunal brilho... esgotada as esperanças, as conversas derivaram para as afinidades, a vizinhança, a última novidade, o último interesse coletivo ... o tempo, que diga-se de passagem, não incluia nenhuma nuvem no céu...

Claro que uma consciência coletiva já era realidade, a de que a falta de energia providenciara uma inédita oportunidade para aquela cidade viver um Natal iluminado (?) .... às claras, desnudo e espontâneo...

mas, antes desta verdade ser confessada, atitudes envergonhadas procuravam compensar suas expectativas e enganos sobre a verdadeira iluminação natalina... as pessoas, igualadas num vulto cinza, mal vistas, nunca antes haviam sido tão percebidas ... olhando para o alto se viram. Buscando ao lado se entenderam... nunca haviam percebido tanto... É NATAL!

E durante toda a noite, escura e ofuscante noite, pode-se perceber a luz presente em cada um, a presença que possui uma vida, o elemento de brilho que destaca cada pessoa, e a insubstituível luz em que se torna todo aquele que decide SER.