segunda-feira, 23 de março de 2009

A Porta


O tempo... as mudanças... flagramos a vida passar, os tempos mudarem e nada, nada mesmo pode mudar isso. Num desses dias fui pegar minha filha na escola, era seu último dia de aula da ‘alfabetização’, numa ‘salinha’ encravada num espaçinho especial, acessado por uma portinha onde fica D. Zilma no controle. Ao lado o parque e as classes do jardim I e jardim II, etapas anteriores. Ainda lembro quando lá chegava e a encontrava com as coleguinhas em guerra com os meninos, seus quartéis, os respectivos banheiros, menino e menina.

Naquele último dia de aula ela até visitara a ‘sala do futuro’, a sala onde estudaria a primeira série, etapa seguinte. Peguei sua bolsa, sua lancheira e travou na minha garganta o chamado ‘vamos lá meu amor?’, naquele final de tarde ficou muito evidente a porta que cruzaríamos. Mas ela nem mensurava, desconhecia o significado talvez, e prontificou-se a ir. Abaixei-me perto dela ‘fazendo cera’, ‘batendo pino’ para sair, eu sabia que nada mudaria se nunca eu saísse dali. O tempo é assim, chega o tempo, e o que tem de ser já é, e de nada adianta reagir a ser no seu tempo.

(risos) ai eu disse para ela agachado pertinho dela: “olha meu amor, hoje é seu último dia de aula neste espacinho”, Queria que ela entendesse que quando ela cruzasse a porta daquele espacinho especial ela estaria deixando lá, e eu também, a Livinha que passaria a existir só ‘naquele tempo’.

Ela é bem ‘filosófica’ (rs) mas naquele dia balançou afirmativamente a cabeça e apressou-se a ir. (rs)
À porta D. Zilma, como sempre responsável pelo controle de quem entra e sai...pensa ela ... o tempo zomba...o tempo passando, crianças indo e voltando e D. Zilma lá... por enquanto. Mas fomos para porta, D. Zilma pediu um forte abraço a Livinha e de novo a consciência do significado daquela passagem me tentava a irromper com a normalidade e se recusar a ultrapassá-la para atentar contra o tempo. Mas, sou normal, e sucumbo às minhas limitações, passei pela porta num só tempo... deixando uma livinha que só encontro nas minhas memórias... mas ganhando outra que a cada dia se completa deixando umas nas minhas memórias ... e outra que é na minha vida.